sexta-feira, 18 de março de 2011

V2...Quando um Varandas fala por outro

"A razão sempre encontra motivos para o “viver sozinho”. É sempre mais fácil fugir do que lutar, desconfiar do que confiar. É mais comum se justificar pelo equilíbrio morno do que rasgar o coração e lutar por aquilo em que se acredita. Cavaleiros e amazonas atiram suas lanças e escudos ao chão, dão meia volta e fogem da batalha.

Por instantes, senti-me exatamente na posição daquela boa senhora. Já não tenho 20 anos e me recuso veementemente a me engajar na ditadura dos relacionamento sexistas, lúdicos e materialistas, onde tudo vem da alegria e do prazer fugaz e se vêm e se vão mais rápido do que deglutir um Big Mac. Para mim “fast love” não é amor, é promiscuidade pura!

É bom lembrar que existe solidão a dois, três, quatro … Nem sempre estar cercado de gente ou formalmente casado implica no afastamento da solidão. Esta é um estado personalíssimo que se queda no fundinho da nossa alma, no espaço mais reservado e mais inacessível do coração. Quantidade de gente nunca será sinônimo de qualidade de afeto.

Segui então para Olinda. Diga-se, de passagem, o primeiro carnaval de que participei na vida. Nossa! “Tanto riso! Oh quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão!” (Keti/ Matos).

Foi lá, no meio do frevo, que vi um milhão de almas solitárias. Estavam se divertindo, é bem verdade! É bom para o corpo e para mente: diz-se que libera adrenalina e serotonina, essenciais para suportar as cinzas das milhentas quartas que se seguirão. Contudo, isso não resolve o problema, e não resolve mesmo!

A vida não é uma festa, embora haja muitos bons momentos festivos. O mundo não gira em torno apenas de baladinhas, regadas bebidas e amigos de ocasião. É preciso construir afetos, como se erguem castelos de pedra. Amigos ou amantes, nós somos sempre as sementes que jogamos ao solo, fertilizamo-las para que elas criem raízes cresçam e gerem frutos. Isso é difícil porque amar alguém implica em renunciar, sofrer, acompanhar, abrir mão do auto-orgulho. É, então aí, que é que a “porca torce o rabo”.

Somos egoístas, medrosos e centrados em nós mesmos. Aprendemos somente a conjugar o verbo na pessoa do singular (eu quero, eu vou, eu faço, eu consigo). Saiba que todo “eu” é sozinho e irá morrer assim.

Destarte, amado(a) amigo(a) leitor(a), saiba que, ainda que muitos revezes lhe tenham acontecido, toda solidão que recai sobre seus ombros é produto do seu livre arbítrio e que multidão alguma resolverá a sua dor. A solução, penso eu, está dentro de você, na forma como olha e vive a vida. Aprenda a utilizar e a vivenciar os verbos na primeira pessoa do plural (nós). Entregue-se! Lute e viva! E se for necessário, sofra por amor! Sofrer por amor sempre será melhor que sofrer sozinho!

Eu desejo que esta quarta-feira de cinzas, para você, seja igual ao "jingle" do fim de ano da Globo:

“Hoje, é um novo dia de um novo tempo que começouNesses novos dias, mais alegrias serão de todos é só quererTodos os nossos sonhos serão verdade, o futuro já começou!”

Bom dia a todos.... Bom dia, vida! Adeus, solidão!"
Eduardo Varandas