terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O momento certo

Há uma hora mágica chamada hora da sedução. Deixada passar, o encanto e o fascínio se desfazem e com eles o interesse daquele que seria seduzido. Por isso, bons sedutores sabem a hora exata de agir, seja na conquista amorosa, no fechamento de uma venda ou na concretização de um negócio. Existe a boa hora para tudo: agir, apresentar idéias, trabalhos, falas, solicitações, discursos e, principalmente, para pedir alguém em casamento.

É preciso estar atento a este instante mágico, brevíssimo, no qual a oportunidade se apresenta, nesta hora fugaz que pode mudar e decidir o destino de nossas vidas. A este momento, a partir do qual tudo muda, os gregos chamam de kairós , numa linguagem moderna - turning point . Bons articuladores usam da astúcia para tecer estes momentos, isto é, vão construindo passo a passo a melhor hora para seus propósitos. A este tempo de urdidura, de montagem dos momentos propícios, de preparação para a ação final poderemos chamar de “chronos”.

Há no teatro o senso de timing . Isto é, saber o momento exato de entrar, falar, ficar quieto e sair de cena. Precisamos aprender a desenvolver este atribulo para uso em nossa vida real. Políticos experientes sabem a hora certa de seduzir seus eleitores, escolhendo com critério a ocasião propícia para apresentar idéias, brigar com oponentes, gerar fatos, aparecer ou sumir dos noticiários. Quer alguém com maior poder de sedução e senso de timing do que Leonel Brizola? Sua carreira foi uma seqüência de aparições corretas e desaparecimentos misteriosos. Nos seus bons tempos, quando lhe era conveniente, aparecia, provocava um barulho danado, instigando tudo e a todos. Impunha sua presença soltando frases de efeito e voltava a sumir quando percebia que isso se fazia necessário e mais conveniente. Com isto, evitava o desgaste, o excesso de exposição, e não se queimava na mídia.

Grandes craques de futebol possuem senso acuradíssimo para saber a hora certa de fazer o passe, barrar o oponente, realizar jogadas e finalizar gols. Sabem melhor que os outros, o instante correto de colocar a bola com perfeição nos pés do companheiro. Gerson, Pelé e Zico são provas desta rara habilidade. Domingos da Guia, graças à sua misteriosa capacidade em se materializar de uma hora para outra e roubar a bola dos pés do atacante adversário, foi considerado como o melhor zagueiro da história do nosso futebol. Sobre a sua arte em roubar as bolas na hora certa, dizia, brincando: “Se chego antes, é cedo. Se chego depois, é tarde. Só tem uma hora para chegar e roubar a bola, a hora certa”.

Atentos às situações favoráveis poderemos tirar o máximo proveito das circunstâncias. O tempo presente é a única realidade, o passado e o futuro moram na imaginação. A hora é a hora, antes da hora não é a hora, depois da hora já não é mais a hora. Com esse velho ditado, os militares nos alertam que existe o momento correto para as tomadas das decisões, das ações, do agir e do não agir.

Saber agir na hora certa é privilégio de poucos. Estamos tão imersos nesta ansiedade do “tudo para ontem” que perdemos a noção de um dos maiores presentes que a natureza nos oferece: perceber a hora correta da maturação, pois uma fruta colhida antes do ponto é imprópria, depois apodrece e cai.

Visionários que se apresentaram antes do tempo pagaram alto preço pelo pioneirismo. Se isto foi necessário, ou não, é outra história, mas milhares de artistas, inventores, empresários, pesquisadores, políticos e estadistas propuseram suas idéias e iniciaram suas obras bem antes do momento certo. Incompreendidos nas suas épocas, deixaram legados para outros, que se apropriaram dos seus trabalhos, dando-lhes seqüência, acertando e ficando com as regalias, os bônus e as glórias merecidas pelo antecessor. Por isso, é preciso atenção: estamos na nossa hora, no nosso tempo e no nosso lugar?

É sensato saber se comportar de acordo com a ocasião e as circunstâncias. A arte de dominar e argumentar deve ser realizada no momento certo, pois o tempo e as oportunidades não esperam ninguém.

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