segunda-feira, 30 de março de 2009

Meus Reflexos no Espectro de Clarisse

Eita! Que voltei a ser minha
Dona das minhas vontades e das minhas paixões
Que vontade de voar
E estou, alçando vôos longos e alcançando outros mundos
Vontade de sair do meu mundinho de faz de conta
"Faz de conta que ela era uma princesa azul
Faz de conta que ela amava e era amada
Faz de conta que não precisava morrer de saudade
Faz de conta que vivia..."
Faz de conta que lutava
Faz de conta que alegrava
Faz de conta que sonhava
Faz de conta que incentivava
Faz de conta que apoiava...
Mas tenho as asas quebradas
Por uma fala desafetuada...
Quero enganar à quem?
Se não preciso enganar ninguém
"E estou cansada
Não suporto mais a rotina de me ser"
Se não há mérito no reconhecer ...
Enganar outrém? Pura ficção
Enganar a mim?Mais uma convicção
Nada acontece e tudo ao mesmo tempo acontece sem parar
Queria ser e agora ...
Já sou dona do meu tempo
Ajustei o meu relógio
O tempo dos meus sonhos
Para que o despertador não me acorde mais
antes de acontecer a ansia dor
depois de acontecida a decepção
Um julgamento injusto
De por momento me verem o que não sou
Depois de tanto mostrar como sou
Maldade levantada diante de só bondade explanada
Mas ainda sonho, luto, alcanço
Não paro nunca
"Faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo
pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte"
Ah, como eu queria morrer só um pouquinho
pois dormir já não descansa mais
quanto trabalho, quantos sonhos, quantas obrigações, quantas decepções
mas não abro mão das doações de alma, de olhar, ato de acrescentar
"Não se assustem, morrer é um instante, passa logo, eu sei"
E como eu sei...
Pois eu me morro mas eu mais me vivo
"simbolicamente todos os dias"
Ah que vontade de adocicar minhas ilusões
com o melado daquilo que é inconsciente no subconsciente
viver o abstrato vetado
Que adocica e venda e impede de me verem
Me enxergarem exatamente como sou
Impede aquilo que me impede de entregar-me total e cegamente.
Mas cego mesmo só quem não me viu de verdade...
"Ah que vontade de alegria.Estou agora me esforçando para rir em grande gargalhada.
Mas não sei porque não rio."
Talvez porque tenho sono
E meu corpo quase ja não me responde.
"Talvez eu sonhe esta noite
E num desses sonhos perceba que a minha vida está mudada.
E eu acorde grávida!"
Uma pessoa grávida de futuro.
"E de caminhos, e de estradas, e de sonhos...
Uma pessoa grávida de desejo!"
Novos desejos...intensos desejos.

Inserção de fragmentos tirados de "Espectro de Clarisse", roteiro teatral que se baseia no texto "A Hora da Estrela" e na biografia da autora Clarisse Lispector.

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