sexta-feira, 27 de março de 2009

É tempo de Quaresma, é tempo de olhar, é tempo de evangelizar.

A gente só sabe que a conversão aconteceu na nossa vida de verdade...é no dia em que a gente percebe que nós temos um jeito novo de enxergar pro outro e pra nós mesmos a pior coisa nessa vida é a gente ser olhado como alguém julgado, é muito triste você ter pessoas do seu lado que te olham de um jeito estranho...por isso que cada vez mais eu me convenço que o que faz a gente se apaixonar uns pelos outros não é apenas o que o outro nos fala, mas também a forma q o outro nos olha,nos enxerga e nos vê.
Tive uma semana cheia de novas experiências, de muitos acontecimentos lidos e ouvidos, mas nunca vividos, estar no Rio de Janeiro desta vez, me trouxe acontecimentos que me fizeram pensar de forma mais cautelosa o quanto desastrosa pode ser a exclusão social, por simples preconceitos e olhares imperfeitos. Em meio aquela contagiante alegria, que o próprio clima daquela cidade nos traz, o relato de uma pessoa negra num breve momento do quanto sentem na pele a dor do preconceito me doeu o coração, mas concomitantemente ter conquistado de forma instantânea a confiança daquele senhor me enalteceu, este senhor com seu pandeiro sair da cena do samba em minha direção, por ver-me brincando com duas meninas, Juliana e Milena, faço questão de expor seus nomes, vir me parabenizar, pegar em minha mão e dizer: -Tu branquinha, não imaginas o que fizestes hoje, sou preto e so eu sei a dor que sinto de tanto preconceito, essa minha raça chora! E cantou-me um samba, coincidência ou não, ele me cantou “Amélia que era mulher de verdade” (adoro e me identifico demais) ... como venho me trabalhando acerca dos momentos certos, eu sabia que jamais teria outro momento e fiz questão de expor àquele cidadão Pedro, que também sofro com o preconceito, com o sofrido por aquelas crianças,e também com o meu, sinto na pele o preconceito dos outros perante mulheres como eu, preconceito por ser inteligente, por tratar bem crianças pobres, e ortodoxamente gostar do que é bom, de conversar e conhecer todos nos lugares que vou e freqüento, desde o mais simples atendente até o dono. Conhecer as histórias é maravilhoso e ser repreendida por isto, me incomoda.

A exclusão social de um modo geral caracteriza-se por afastar o indivíduo do meio social em que vive. E não é direito do cidadão apenas de inicio estar? Essa exclusão pode estar relacionada a vários fatores sejam eles, políticos, econômicos, religiosos, entre outros, mas nenhum deles me convence de fundamentos para que ele exista, todos temos vida, luz e idéias, se tenho uma maçã e outro indivíduo também se trocarmo-nas teremos cada um ainda uma maçã em cada mão, mas se trocarmos cada um uma idéia sairemos cada um com duas idéias... onde está a diferença? Está na soma.Somos cor ou somos razão? Somos objeto ou coração? Se esse tal preconceito deve existir, não deveria ser pela burrice humana? Pela falta de conteúdo? Pela falta de oportunidade? Pela indiferença a seres indefesos? Há tanto para se repudiar neste mundo de valores invertidos.O preconceito racial é uma das inúmeras formas de exclusão social bastante comum no mundo, e isto me entristece, mas ver um Obama me enobrece, este mostrou o quanto vale ser gente, somente ensinando o que é ser gente, seu valor e respeito humano o acompanharam a todo momento e isto é a base de tudo e para todos independente de raça, classe ou religião.É obvio que a cor da pele não julga a competência de ninguém, mas este homem de descendência negra e de classe humilde se mostrou muito mais homem que muitos brancos privilegiados antecessores de sua cadeira.

Muitas vezes fui recriminada por ser mais emoção do que razão, mas acredito piamente que o que vem do coração é que enobrece o cidadão, não sou candidata, nem tenho pretensões políticas, mas tenho sensibilidade suficiente para discernir que certas atitudes não condizem com o real tratamento humano, e naquele senhor relatado acima escrevo este texto, querendo dizer que a branquinha tem sim idéia do que fez naquele momento, e me arrependo dos inúmeros momentos que perdi, pois sei o quão importante é, não só para Juliana e Milena, receberem atenção, como para qualquer criança e qualquer cidadão, em especial os carentes de referência, respeito e atenção, ajudar é preciso mas um olhar com carinho é imprescindível, é no olhar do outro que descobrimos o que ele acha, mesmo que ele não diga nada, mesmo que não fale absolutamente nada... por isso quero cada vez mais tomar posse disso: EVANGELIZAR antes de ser um gesto de falar ao outro alguma coisa, evangelizar é um gesto de olhar e enxergar. Ver o outro sempre com perpectivas é dar oportunidade de fazer nascer no outro o que ele tem de bom...É tempo de mudar, comece num olhar, comece a evangelizar.

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